TASCA DA ESTAÇÃO

15.8.05

Desabafo de um ingénuo

Votei no PS. Em parte porque me recusava a ter o Santana Lopes mais tempo como Primeiro-Ministro, em parte porque a coisa tinha descido tão baixo que eu, ingénuo, acreditava que só podia melhorar (desde que, claro, o Santana Lopes desaparecesse de cena). Assumi a responsabilidade e, também, ajudei a pôr nas mãos do PS a responsabilidade de conduzir o país. Depois de um começo prometedor, tudo descambou nos últimos tempos: a rábula da demissão de Campos e Cunha (com o que se vai sabendo que esteve por trás), o anúncio de obras mirabolantes como Ota e TGV, a pouca-vergonha da Caixa, os jobs para os vorazes boys do PS. No meio disto tudo, o facto de Sócrates estar de férias no Quénia enquanto o país arde é um pormenor de somenos - até porque se ele cá estivesse arderia exactamente a mesmíssima coisa -, um mero fait-divers a que aquela caricatura de oposição chamada PSD, à falta de melhores ideias, se agarra com quantas forças tem, em tempo de silly season. Grave é o aparelho do PS estar a tomar conta de tudo, com cada boy tentando assegurar o seu futuro sem se preocupar um segundo que seja com o futuro do país. Pensei que Sócrates tivesse forças para controlar o aparelho, para inverter 30 anos de uma tendência clientelar sempre em sentido ascendente: obviamente, enganei-me redondamente.

Em conclusão, perdi a confiança neste governo. Como também não a tenho na oposição. Aliás, qual oposição? Não existe oposição. Agora, faço parte dos críticos. É a vantagem de quem pensa pela própria cabeça: como os lá pus em 2005, com eles correrei em 2009, se a coisa continuar por este caminho. Ao menos, que mudem as moscas!