TASCA DA ESTAÇÃO

6.11.06

Mais um mártir

Não é que o Saddam me mereça qualquer espécie de comiseração. É um traste e merece ser tratado como tal. É-me indiferente se passa o resto dos dias numa cela de 0,5x0,5 m, se é enforcado, esquartejado, cortado aos pedacinhos ou frito em óleo Fula (só seria contra se o lançassem às feras, por respeito aos direitos destas).

Mas este julgamento foi uma palhaçada e a sua apressada (e mais do que previsível) condenação à morte vai apenas contribuir para agravar as divisões no Iraque. Criar mártires nunca foi solução.

Pior: foi julgado e condenado apenas por um crime, que, embora hediondo, nem terá sido dos piores. E os outros? Os curdos, gaseados, os xiitas, esmagados quando os aliados os abandonaram à sua sorte em 1991, por exemplo. Ficam julgados com esta condenação? Crimes com castigo por procuração, novidade mundial.

Chamar "justo" a este julgamento é estar a gozar com o pagode. Julgamento justo seria no TPI e não num tribunal primário sedento de vingança. Os vencedores não podem - não conseguem - julgar justamente os vencidos, principalmente se tiverem sido atingidos por estes no passado.