TASCA DA ESTAÇÃO

14.2.05

Um post herético

Perdoem-me os mais crentes, mas não alinho nesta onda de luto carregado que invadiu o país desde que ontem foi tornada pública a morte de Lúcia dos Santos, mais conhecida por irmã Lúcia de Jesus. Para mim, que não creio em deuses, foi apenas uma velhota que morreu de velha: é triste, mas é a vida. Quantos nós morrerão de velhos, relativamente lúcidos e saudáveis até que a máquina atinge o fim da vida útil? Morreu uma velhota que aqui há um bom par de anos viu algo que imaginou ser a Nossa Senhora, visão essa a que até a própria hierarquia da Igreja pouco ligou até um dia, bem mais tarde, em que o regime Salazarista viu ali um dos "F" que iria manter o povo - crédulo, ignorante e iletrado - em sossego.

Que os católicos mais fervorosos lhe chorem a morte, eu entendo. Que partidos como o CDS ou a ND suspendam a campanha, idem. Já o PSD não. Muito menos o PS, cujo gesto se rege por cínica realpolitik: não convém mesmo nada arriscar ferir a susceptibilidade do eleitorado católico que vota PS. E, quem diz PS, diz PSD.

Neste dia de malucos, coroado por esse despropositado decreto de luto nacional, destaquem-se as palavras de quem, dentro da Igreja, parece conservar o juízo e pensar pela própria cabeça: D. Manuel Martins e D. Januário Torgal Ferreira. Atente-se nas palavras deste último "
A irmã Lúcia não faz parte da alma da pátria". Chapeau, meu caro Bispo.