TASCA DA ESTAÇÃO

10.2.05

Coerência (ou falta dela)

Confesso que às vezes quase chego a ter pena do Santana Lopes, de tão forte o Pacheco Pereira lhe bate. Por exemplo, aqui, aqui, aqui ou aqui. E, se procurarem nos arquivos do Abrupto, ou nos muitos textos que ele escreve na imprensa, encontram outros tantos nacos de prosa a zurzir no homem. No entanto, julgo não estar maluco, ouvi (ou li, isso já não sei) que o Pacheco Pereira ia, ainda assim, votar PSD. Eu sei que as hipóteses de o PSD ter um resultado acima de miserável são menos de um por milhão. Mas, vamos por absurdo: imaginemos que o eleitorado flutuante, aquele que decide as eleições, conta com o ovo no cu da galinha e dá por adquirida a vitória do PS. E que, por isso, vai a banhos, ou para a neve, ou fica simplesmente em casa. Imaginemos que todos os eleitores habituais do PSD que odeiam (politicamente, bem entendido) o Santana Lopes, longe de imaginar tal cenário, votam PSD ("que se lixe!, o resultado vai ser mesmo tão mau que o homem vai levar uma porrada que nunca mais se levanta e, assim como assim, não faço a desfeita ao partido", pensam). Imaginemos que a coisa atingia tal dimensão que - tragédia!, horror! - , o PSD de Santana ganhava as eleições. Teríamos, assim um Santana Lopes ressuscitado, mais forte do que nunca e com uma legitimidade inatacável, eleito com os votos dos que o apoiam e - absurdo dos absurdos! - dos que, sendo do PSD, o querem ver de lá para fora a.s.a.p. É por isso que não compreendo a posição de Pacheco Pereira e de outros como ele. Não que votem PS, longe disso!, mas dar o seu voto a quem tanto desprezam? Serão 4 anos (se tanto!) de travessia do deserto um preço demasiado alto a pagar pela queda de Santana? Será preferível ter um Santana por tempo indeterminado, com a força de, mais uma vez, ter vencido, contra tudo e todos, mesmo dentro do seu próprio partido - e, desta vez, a nível nacional? Se calhar, para Pacheco Pereira, é. Está no seu direito. Eu, seu leitor atento, é que fico sem perceber nada.

Tudo isto é um cenário virtual? Será. Mas foi mais ou menos isto que me aconteceu em 98, quando do referendo sobre o aborto. Não votei, confiante na vitória do Sim, e porque tinha que fazer 300 + 300 km. Toda a gente do Sim pensou o mesmo. Os do Não, não. Resumindo, lixei-me. Por essas e por outras é que ainda não descartei reconsiderar da minha decisão aqui expressa e aqui reiterada. Não porque acredite no PS. Mas sim porque me recuso a ver um Santana Lopes legitimado nas urnas por omissão minha.