TASCA DA ESTAÇÃO

23.1.06

Presidenciais - III

Como gosto de teorias da conspiração, vou aqui desenvolver uma que, diga-se em abono da verdade, não fui eu quem inventei. Fui ouvindo e lendo, aqui e ali. Acrescento-lhe uns pós da minha lavra, e reza o seguinte:

Se o PS perdeu, Sócrates ganhou. E ganhou porquê? Porque Cavaco é o melhor presidente que Sócrates pode ter. Porque apoia as medidas duras que este governo está a tomar, porque gosta de estabilidade, porque não se atreverá a dissolver um governo apoiado por uma maioria de um só partido por dá-cá-aquela-palha.

Com Alegre, Sócrates teria um problema bicudo. Se quisesse privatizar as águas não podia, e quem diz isto diz o mesmo relativamente a outras medidas de carácter mais, digamos, liberal. Daí que, percebendo o erro em que iria cair, Sócrates tenha tirado o tapete a Alegre. Como Cavaco estava mais do que bem posicionado, não havendo por isso muita gente no PS disposta a queimar-se, Sócrates escolhe Soares. Porquê Soares? Talvez porque se Soares ganhasse todos elogiariam a sua jogada de mestre, e se perdesse era menos uma voz incómoda para ele.

Exactamente: com este gesto, Sócrates matou dois coelhos (tem piada, agora que escrevo isto, não sei se não matou um terceiro...) de uma só cajadada: arrumou Alegre e estraçalhou o que restava de soarismo. Não sei se se lembram quem foram os adversários de Sócrates no último congresso do PS. Isso mesmo: Manuel Alegre e João... Soares. Hoje, reduzidos, em termos de PS, à sua expressão mais simples.

Sócrates tem, pois, o caminho livre: para reinar, dividiu. Não hesitou em abalar seriamente o partido, sabendo que tem 3 anos e picos à sua frente para lamber as feridas e recolocar as coisas no lugar, na convicção que Cavaco não lhe fará contravapor. Até porque Cavaco corre sozinho e não pelo PSD.

Eu tenho poucas dúvidas: ontem, Sócrates votou Cavaco.