TASCA DA ESTAÇÃO

18.3.05

Um ódio de estimação

Por norma, irrita-me gente que vai a uma cervejaria, daquelas à séria, e bebe vinho. Numa cervejaria, daquelas à séria, bebe-se cerveja e comem-se bifes e mariscos (bivalves e outros bichos aquáticos incluídos). Vinho, bebe-se num restaurante. Ponto. Beber vinho numa cervejaria é como ir vestido à Marilyn Manson para um concerto da Britney Spears.

Esta gente tem regra geral um ar levemente afectado (mais pronunciado no caso das mulheres), assim a dar para o snob, e por norma, depois de beber o café, fica a bebericar o vinho (se preciso, pede outra garrafa), fazendo sala (numa cervejaria!) e tendo conversas intelectualmente profundas, estando-se positivamente a cagar para o facto de, junto à entrada, o pessoal à espera se ir acumulando, uma vez que estão na cervejaria (cuja rotatividade de mesas é enorme) como estão num qualquer restaurante do Bairro Alto, onde (acham eles) só é gente quem se porta assim. E não importa que o ambiente seja de total algazarra, que essa cáfila é intelectualmente superior a essas coisas, conseguindo discutir sem problemas todo e qualquer tema existencial (tem é que ser existencial, senão a coisa não funciona) independentemente dos factores exógenos, quaisquer que sejam.

Não sei porquê, associo essa gente ao Bloco de Esquerda. É irresistível, porque está lá tudo: o ser pretensamente diferente, a indiferença perante os outros, aquele ar afectado, contudo tão diferente do das tias do CDS!, a superioridade "moral". É preconceito? Talvez. Mas basta olhar para os principais dirigentes do Bloco: eles são bem capazes de ir a uma cervejaria, daquelas à séria, beber vinho e ficar à conversa duas horas depois de terem bebido o café.