TASCA DA ESTAÇÃO

11.5.05

O crime de Benavente

Há uns anos, havia uma área com 4.000 sobreiros ali para os lados de Benavente. Há uns anos, o Grupo Espírito Santo quis lá fazer um empreendimento que implicava o seu abate. Imaginam-se moradias de luxo, campos de golfe e quejandos. Coisa de dinheiro, muito dinheiro. Um pequeno pormenor obstava ao negócio: a merda dos sobreiros são uma espécie protegida e, portanto, não podiam ser abatidos assim sem mais nem ontem. Excepto, espera aí!, se o projecto fosse classificado como "de utilidade pública". Perante a tamanha evidência que se adivinha, o Ministro da Agricultura da altura (para que conste, de seu nome Duarte Silva) tratou de conceder o referido estatuto. E os sobreiros começaram a vir abaixo. Quando o governo de Guterres conseguiu parar a coisa, já 1.400 (mil e quatrocentas) árvores tinham sido abatidas.

Mas aquela malta do GES não é de desistir facilmente. Deixou-os poisar e, no mandato daquela coisa a que chamram Governo de Santana Lopes, voltou à carga. E, a 4 (quatro) dias do fim do mandato, três ministros-três! (Ambiente - Nobre Guedes, Turismo - Telmo Correia e Agricultura - Costa Neves) assinam um despacho decretando (leiam sem rir, ou chorar, ou espumar) a "imprescindível utilidade pública do projecto".

A coisa voltou - felizmente - a parar. Novamente com um governo PS. Tarde demais para 950 árvores. Já só restam, pois, 2650. Um terço já foi e não volta. Está-se mesmo a ver como a coisa vai acabar: é que água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.

Eu gostaria de perceber que utilidade pública pode ter um empreendimento turístico, seja do GES seja de quem for. Utilidade tem uma AutoEuropa, não um conjunto de casas, hotéis, restaurantes e campos de golfe que empregam meia dúzia de gatos-pingados. Pois, eu sei que sou um ingénuo. Aquilo foi, isso sim, mais uma negociata à portuguesa, em que alguém se encheu (ou ia encher) de papel, às custas do nosso património natural. Mais do mesmo, enfim: de Norte a Sul, o país está pejado dos resultados desses negócios, uns maiores, outros menores, mas sempre com o mesmo resultado.

Mas parece que desta vez a coisa deu para o torto. E que bom seria que este caso fosse tratado de forma exemplar! Mas, lá estou eu outra vez a sonhar...

P.S.: eu, que tantas vezes aqui me atiro à Quercus como gato a bofe, tenho que destacar o seu papel na denúncia desta selvajaria autorizada por decreto governamental.